Há mais de uma década, quando recém começamos as atividades aqui, no Engenharia 360, já se ouvia falar de um projeto audacioso e inovador da Microsoft para instalar data centers no fundo do mar. O projeto, batizado como ‘Natick’, tinha como objetivo explorar uma forma mais sustentável e eficiente para o crescente consumo energético e desafios de refrigeração enfrentados pelos próprios data centers tradicionais em terra firme. E depois de tantos testes promissores, a empresa simplesmente resolveu interromper os trabalhos. Mas por quê? Vamos analisar os motivos no artigo a seguir!
A origem do Projeto Natick
Ali pelos anos de 2012 e 2013, a Microsoft apresentou esse Projeto Natick com a proposta de posicionar, no solo marinho ou flutuando sob a superfície do oceano, diversos tubos de aços gigantes contendo servidores conectados por fibra óptica para garantir alta velocidade de transmissão de dados. Parece até roteiro de ficção futurista, não é mesmo? Tal conceito surgiu durante o evento ThinkWeek; e, na ocasião, foi destacado como a água do mar poderia ser a melhor solução natural de resfriamento para data centers, transmitindo Internet de altíssima velocidade para as cidades costeiras.
A saber, atualmente, a metade da população mundial vive até 190 km da costa. Por isso, a Microsoft apostava que levar os servidores para mais perto dessas pessoas poderia reduzir significativamente a latência dos serviços, além de economizar energia e otimizar espaço físico.

O funcionamento dos data centers subaquáticos
A primeira fase do Projeto Natick começou oficialmente no ano de 2015, com diversos testes sendo realizados no Oceano Pacífico. Depois, em 2018, um data center do tamanho de um contêiner foi instalado a 35 metros de profundidade nas Ilhas Órcades, na Escócia.
A estrutura é hermeticamente fechada, preenchida com nitrogênio seco – mais estável para os servidores, diferente do tradicional oxigênio, geralmente utilizado em sistemas similares e que provoca corrosão e oxidação de componentes. Todos os equipamentos são protegidos contra a corrosão, flutuação de temperatura e interferências humanas. As conexões são feitas via fibra óptica. E a energia é fornecida por fontes renováveis locais, que podem ser turbinas de marés e geradores de ondas.

Resultados do experimento
O grande experimento realizado pela Microsoft em 2018 provou que, ao utilizar data center no fundo do mar, a taxa de falhas cai para oito vezes menos em comparação com data center em terra. O resfriamento é altamente eficiente, com baixíssimo impacto energético e pouca ou quase nenhuma necessidade de manutenção durante o período submerso. Além disso, nenhum impacto ambiental foi perceptível no entorno, segundo medições acústicas e térmicas. Inclusive, depois de dois anos, quando o equipamento foi retirado d’água, tudo parecia estar bem preservado, com pouco acúmulo de vida marinha.
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Segundo os cientistas, talvez o maior aprendizado tirado do experimento foi que é possível operar data centers sem usar água doce para resfriamento – um recurso vital para agricultura e a vida selvagem -, o que reforça o potencial sustentável da iniciativa.
Razões para a paralisação dos data centers subaquáticos
Parece estranho dizer, depois de listar tantas vantagens dos data centers subaquáticos que a Microsoft tenha desistido – por hora – de apostar em tal solução. Afinal, se deu tão certo, por que a empresa parou? Bem, esse anúncio foi dado em 2024 por seus gestores, mas enfatizando que a ideia não foi abandonada definitivamente.
Primeiro, eles esclareceram que o Projeto Natick era mesmo um projeto experimental, que serviu para gerar conhecimento, testar hipóteses e entender os desafios operacionais de ambientes externos. Então, em princípio, todos os objetivos foram alcançados. Mas agora, diante dos dados coletados, é preciso aprimorar a tecnologia e aplicar o aprendizado em outras áreas, inclusive para melhorar a confiabilidade e ciências dos data centers terrestres, como as unidades modulares.

Embora eficientes, os data centers subaquáticos se mostraram muito caros quanto à sua implantação; a logística disso é bastante complexa e envolve guindastes, robôs subaquáticos e janelas climáticas favoráveis. E falando bem a verdade, os cientistas não têm 100% de certeza se grandes volumes de equipamentos submersos poderiam ou não afetar ecossistemas marinhos sensíveis.
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O futuro da Microsoft e os data centers subaquáticos
Em entrevistas recentes, os gestores da Microsoft deixaram bem claro que seu foco não está mais em tornar os data centers subaquáticos viáveis. Neste momento, a empresa tem metas mais ambiciosas, como zerar as emissões de carbono até 2030, desenvolver data centers autossuficientes e com manutenção mínima, e reduzir drasticamente o consumo de água e energia em suas operações. De todo modo, não se pode negar que a ideia de implantar data centers próximos a centros urbanos costeiros continua sendo uma visão bastante atraente para o futuro da computação.
O mercado ainda valoriza, sim, soluções mais tradicionais e escaláveis; isso talvez explique por que a Microsoft pode estar focando em outras inovações que atendam melhor às necessidades atuais. Mas vai saber do futuro… Fato é que a demanda por data centers continua crescendo, sobretudo impulsionada por Inteligência Artificial, computação em nuvem e dispositivos conectados.
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Fontes: Pplware.sapo, Microsoft, Windows Central, Game Vicio.
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Redação 360
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